30 abril 2016







"A vida é muito menos cheia de prosápia do que a morte. É uma espécie de maré pacífica, um grande e largo rio. Na vida é sempre manhã e está um tempo esplêndido. Ao contrário da morte, o amor, que é o outro nome da vida, não me deixa morrer às primeiras: obriga-me a pensar nas pessoas, nos animais e nas plantas de quem gosto e que vou abandonar. Quando a vida manda mais em mim do que a morte, amo os que me amam, e cresce de repente no meu coração a maré da vida. Cada lágrima que me escorre por vezes pela cara ao adormecer, cada aperto de angústia na garganta que sinto quando acordo de manhã e me lembro de que tenho cancro, cada assomo de tristeza que me obriga a sentar-me por vezes à beira do caminho quando vou passear com os cães e interrompe a oração ou a conversa com o céu que me embalava o espírito, cada um destes sinais provém do falhanço momentâneo do amor dos outros em amparar-me, e sobretudo do meu em permitir-lhes que me acompanhem. Quando, pelo contrário, decorre um dia em que consigo escrever e gosto daquilo que escrevo, em que me curvo sobre os canteiros para cortar ervas daninhas, em que admiro amorosamente a energia da Patrícia sentada ao computador ou a trazer lenha para casa, quando isto sucede, o meu tempo já não é o Tempo Comum mas antes um longo domingo de Páscoa: sinto a presença amorosa de todos os que precisam de mim e d’Aquele de quem eu preciso."




(excerto de "Morrer é mais difícil do que parece")
Paulo Varela Gomes (1952-2016…(







25 abril 2016






para mim este príncipe foi sempre "sua alteza". recriou o funk e a pop de um modo único e era um raro talento multidisciplinar: tocava guitarra, piano, bateria e não sei quantos mais instrumentos, cantava e dançava, para além de escrever as letras e a música das suas canções e ainda oferecer músicas para outros. foi também um dos meus heróis simbólicos nos anos oitenta e acompanhei-o sempre, mesmo quando deixou de estar na moda. uma vez estava em londres e pude vê-lo ao vivo, na lovesexy tour – e ocorreu uma revelação. talvez só o grande alfredo mercúrio tivesse o mesmo tipo de presença sobre um palco. há uns quatro anos voltou a reinventar-se, rodeando-se de três princesas e regressando ao formato nuclear do quarteto rock (duas guitarras, baixo e bateria), assumindo essa herança de hendrix no seu virtuosismo como solista. quem ocupa agora este lugar?





soube-se entretanto que nas últimas actuações que deu recentemente se apresentara sozinho, cantando apenas acompanhado por si ao piano, possivelmente uma nova experiência que estaria a explorar. gostava de o ter ouvido e de ver como teria adaptado a sua música a um piano solo. mas tive ainda a sorte de o voltar a reencontrar há três anos, naquela noite mágica no coliseu de lisboa. o concerto abriu exactamente com esta canção, revisitando num modo rock um seu êxito antigo, e é isso o que me magoa mais no seu desaparecimento: não podermos a partir de agora voltar a ser com ele assim doidos.







24 abril 2016






she believed in fairy tales and princes,
he believed in jazz, rhythm&blues
and this thing called soul,
he believed in rock&roll







nothing compares 2 u
prince rogers nelson
(1958-2016…(...